A Comic Con anunciou, esta terça-feira, que se iria mudar de malas e bagagens de Matosinhos para Oeiras. Tal decisão deixou muitos nortenhos chateados...e com razão.
A mudança do norte para o sul não é nada de novo para quem vive lá por cima... Infelizmente, raros são os casos de iniciativas que vingam a norte do Tejo e não decidem vir desabrochar a outras paragens, com resultados mistos.
Mas esta é uma machadada que dói porque o Porto adotou a Comic Con com entusiasmo, encheu a Exponor com cem mil pessoas só no ano passado, e, pior do que isso, viu o evento "fugir-lhe" com justificações que magoam.
A verdade é que as razões utilizadas para justificar a troca estão longe de se aplicar no caso de Oeiras... É que se o motivo para sair de Matosinhos era a falta de acessibilidade, alguém me explica como raio vou para Oeiras daqui? É que confesso que não sei e, se as idas regulares ao Alive! servirem de exemplo, vai ser interessante abandonar o recinto à hora de fecho...
(Desculpem o desabafo, mas fui às primeiras edições da Comic Con e este motivo de orgulho nortenho acabou de se transformar em desilusão).
E já que o assunto é o Porto, nada melhor quer partilhar este maravilhoso e real (trust me!) relato do Bruno Nogueira, que decidiu fazer um "elogio à Invicta" na sua crónica "Mata-Bicho", da Antena 3.
Ele explica, logo a abrir, que, quando chegamos ao Porto, "acontece magia. Sempre". Como o compreendo... E como é difícil de a explicar!
"Estamos a falar de uma nação à parte, onde tudo é à bruta de bom", continua ele, usando a comida para descrever a generosidade dos portuenses, "que transborda por todo o lado".
"Quando nos servem um prato está subentendido que querem que comamos não só o que queremos como aquilo que vamos querer a seguir. Vêm para a mesa doses valentes que dão para nos alimentar durante quinze dias... A nós e à família. E pagamos metade do que estamos habituados a pagar", acrescenta o comediante, que não se faz de rogado na hora de bradar aos céus as qualidades do Norte, pejado de pessoas despachadas, convictas e com um coração que não cabe neste país.
"Tuga que é tuga desconfia sempre porque não está habituado a pessoas generosas. E as pessoas do Porto estão programadas para gostar das pessoas", revela ele, adicionando que as pessoas do Porto "gostam com o corpo todo".
De seguida, diz algo que eu sempre quis dizer, mas nunca ousei falar para não correr o risco de ser mal interpretada pelos meus queridos lisboetas... É que é sempre mais fácil elogiar "de fora" que o fazer "por dentro". Cai sempre pior...
"O português não está habituado a pessoas que gostam de gostar. Quando chegamos ao Porto, levamos logo com uma masterclass de calor humano, que é para não termos a mania. E o pior é que depois nos habituamos e chegamos a Lisboa e levamos com toda a gente de trombas e não percebemos logo porque é que as pessoas estão chateadas", reza o Bruno Nogueira. I second that!
Ora aí está a típica experiência que tem um portuense ao chegar a Lisboa... É difícil a adaptação. Por muito que se queira, são "mindsets" diferentes que nem sempre dão para conciliar. É que o Porto pode até ter o céu mais cinzento, mas a alegria e a cor damo-la nós e o céu do Porto acaba por se pintar de um azul tão forte que raramente se encontra igual em Lisboa...
Mas ele explica o que se passa e até a mim surpreendeu a explicação, em que nunca tinha pensado (confesso). Diz que as pessoas na capital estão "zangadas e chateadas porque se podem dar ao luxo de estar zangadas e chateadas". "No Porto não há cá paciência nem tempo para isso. E se houver resolvem logo tudo rápido, não ficam ali a engonhar", diz ele.
E termina de forma brilhante e que me deixou com o coração apertadinho por estar longe...
"Gosto do país que temos, mas é sempre mais fácil aprender a gostar a Norte".
Como te entendo, Bruno Nogueira. Como te entendo...
Sou de Valbom. It's true. Não nasci lá (vim a este mundo na Maternidade Júlio Dinis, como tantos outros portuenses), mas tinha (e tenho) família por lá e acabei por ser registada como se lá tivesse nascido.
Valbom, Gondomar. Espaço onde passei parte da minha infância e do qual guardo memórias fortes, más, assim-assim e boas, mas sempre fortes.
Ir lá é sempre uma experiência intensa, porque é sempre pungente voltar a um lugar que nos marcou, mas volta e meia faço-o e não podia ter melhor opinião desta cidade (sim! cidade!) e das suas gentes, sofridas mas generosas, como é apanágio das boas almas do Norte.
Falo de Valbom hoje porque está nas bocas do Mundo e por excelentes razões. O enorme Ricardinho, o melhor jogador de futsal do Mundo, que ajudou Portugal a conseguir a merecidíssima taça de Campeão Europeu de Futsal; o mesmo Ricardinho que, qual Ronaldo, também se lesionou na final derradeira mas viu a equipa vencer com a força que lhes foi dando do banco... Esse mesmo é de Valbom e não se cansa de o dizer, gritando bem alto que se sente gondomarense.
Pois hoje, e graças a ele, também eu me sinto um pouco mais gondomarense, apesar de estar aqui em Lisboa neste momento.
Espero que, por lá, lhe façam a festa merecida e que também Valbom celebre com orgulho a vitória conseguida ontem frente à Espanha.
Da próxima vez que lá for prometo que tiro uma foto ao pavilhão do rapaz, que fica a metros do sítio onde dei os meus primeiros passos. No entretanto, aproveito a ocasião para deixar a minha vénia a esta que também é a minha terra e de que nem sempre falo. Mea culpa.
Hi! Ainda desse lado? Tanta coisa aconteceu no entretanto que acabei por não conseguir atualizar o estaminé com a regularidade que merecia... Lisboa é um bocadinho mais minha, o Porto continua a ser o meu abrigo e agora juntei Nova Iorque à lista de spots a visitar com regularidade. Prometo contar tudo brevemente!
No entretanto, vou tentar voltar a atualizar isto com regularidade, para não vos deixar no limbo blogosférico, sem notícias. Welcome back!